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Tá rindo de quê? Qual é a importância do bom humor para a saúde mental?

Atualizado: 1 de abr. de 2022

O bom senso de humor é uma força de caráter que favorece a experiência de bem-estar. O bom humor também pode proporcionar momentos agradáveis aos outros nas relações interpessoais. Sorrir e fazer sorrir pode reduzir o nível de estresse e melhorar a saúde mental. Ao sorrir nosso cérebro é induzido a produzir e liberar endorfina, um neurotransmissor relacionado às sensações de prazer e bem-estar. Podemos ter a sensação de ter mais energia e até mesmo anestesiar uma dor.

Sabemos que há uma região do cérebro que apresenta grande ativação quando há um relato subjetivo de felicidade: o núcleo accumbens. É uma das estruturas do corpo estriado ventral, que integra os centros de prazer e de recompensa. Sua atividade é regulada por neurotransmissores, como a dopamina e a serotonina. Estes neurotransmissores regulam as emoções positivas; estão associadas ao bem-estar. Amigdala, hipocampo e sistema límbico são outras partes do cérebro ativadas quando há o relato subjetivo de felicidade.


É difícil para a neurociência realizar uma pesquisa que tenha como objetivo entender a sensação de prazer e felicidade em função natureza dessa experiência subjetiva e da relação dos componentes hedônicos (prazer ou afeto positivo propriamente) com os componentes eudaimônicos (avaliações cognitivas do significado da experiência e da satisfação). Ainda não há progressos substanciais na compreensão da neuroanatomia funcional da felicidade. Há regiões do cérebro que são importantes nas “redes hedônicas” do cérebro e estudos recentes especulam sobre a interação potencial destas com as “redes eudaimônicas”.

Outro ponto interessante é que nós, seres humanos, quando comparados aos outros animais, temos uma quantidade muito superior de células neurônio espelho. Desta maneira, ao interagir com uma pessoa que está visivelmente feliz, tendemos a nos comportar mentalmente como ela e, claro, sentir ao menos em parte a sensação de bem-estar do outro. Não seria exagero então dizer que a alegria é contagiante. De acordo com Ryan Niemic, pessoas que apresentam a característica do bom humor, apresentam correlação positiva com: inteligência social, entusiasmo, bondade, esperança e capacidade de expressar amor.

Mas será que o senso de humor é sempre algo bom? Certa vez, assistindo uma mesa redonda que debatia “Qual é o limite de humor?”, o experiente ator/redator Felipe Absalão, que faz parte do grupo Comédia em Pé, disse: "O limite do humor está em rir COM o outro e não DO outro." E seguiu seu raciocínio dizendo: "Até mesmo o bobo da corte, que fazia piadas sobre o rei, era escolhido pelo mesmo".

Vejam, esta é uma importante reflexão. Pessoas pouca empáticas podem não se sensibilizar com o sofrimento do outro. Sendo assim, podem expô-lo, fazendo piadas/brincadeiras inadequadas, que serão gatilhos para o sujeito ativar sentimentos extremamente desconfortáveis. A sensação de tristeza, raiva e inadequação surge em função da ativação de pensamentos automáticos de menos valia.

As piadas/brincadeiras inadequadas direcionadas a um sujeito, se forem intensas, frequentes, persistentes, podem se tornar uma grave violência emocional (bullying). A pessoa que pratica o bullying está tentando criar uma autoimagem positiva diante de um grupo. Pode estar se utilizando da estratégia de: ao mesmo tempo que aponta um “defeito”, ato vexatório ou característica marcante do outro, evita que os outros olhem para si e identifiquem seus próprios “defeitos”.

Bertrand Russel, no ensaio “Elogio ao ócio”, disse que uma virtude só pode ser considerada uma virtude se vier acompanhada de uma outra virtude, que é a bondade. Por essa perspectiva, o bom humor precisa ser um bondoso humor.

E o outro lado? O mau humor. Há pessoas, que no convívio com as outras, são vistas como sendo mau humoradas. O "mau humor" crônico é comumente visto em sujeitos que preenchem critérios diagnósticos para depressão recorrente (antes chamada distimia). Neste caso, o modo de pensar pessimista os fazem enxergar mais frequentemente aspectos negativos no contexto. Isso leva ao aumento da irritabilidade e causa consequências ruins para a saúde mental e piora a qualidade das relações interpessoais.

Outro ponto interessante para observarmos: alguns pacientes ativam a estratégia de enfrentamento de usar a ironia/sarcasmo quando se deparam com situações ativadoras de sentimentos desagradáveis experimentados pelos outros ou por si mesmos. Pessoas que apresentam o esquema de inibição emocional podem na interação com os outros (de forma habitual e não consciente) disfarçar ou evitar expressar o que sentem.

Então, nem sempre um sorriso é sinal de bem estar. Até mesmo em uma sessão de terapia pode acontecer do cliente apresentar sentimentos não compatíveis com o contexto. Exemplo: certa vez um cliente que sofreu grave violência física e emocional contou sorrindo muito: "Minha mãe amava muito mais o cachorro do que eu. Ela me amarrava no pé da mesa com uma corda por horas para poder sair de casa e eu não aprontar. O cachorro ficava solto pela casa".

Em suma, expressar o bom humor no contexto e momento adequados faz muito bem. Importante observar se o sentimento está compatível ao contexto. Em 2019 o filme Coringa, que rendeu o Oscar de melhor ator a Joaquin Phoenix, causou grande impacto e promoveu debates sobre a necessidade de ativarmos sentimentos mais compatíveis ao contexto. É difícil achar o ponto de equilíbrio, porque alienar-se é preciso, mas viver alienado não.

 

Texto elaborado por: Dr. Rafael Thomaz. Psicólogo clínico, professor e pesquisador.

 

Referências:

  • Andrew, J. Rosenfeld, M. (2019). The Neuroscience of Happiness and Well-Being: What Brain Findings from Optimism and Compassion Reveal. Child Adolesc Psychiatric Clin N Am 28 (2019) 137–146.

  • Dfarhud, D.; Malmir, M.; Hhanahmadi, M. (2014). Happiness & Health: The Biological Factors- Systematic Review Article. Iran J Public Health. Nov;43(11):1468-77.

  • Niemic, R. (2017). Intervenções com forças de caráter. Associação Latino Americana de Psicologia Positiva. São Paulo: Hogrefe.

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